quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O Funeral de um Lavrador

À parte de qualquer pretensão poética ou política, sinto alguma proximidade da letra da música 'Funeral de um Lavrador", de Chico Buarque (novamente) e de João Cabral de Melo Neto, com os constantes desabafos descontentes dos colegas servidores da instituição onde trabalho.

Funeral de um Lavrador
Composição: Chico Buarque de Hollanda / João Cabral de Mello Neto

"Esta cova em que estás com palmos medida / É a conta menor que tiraste em vida / É de bom tamanho nem largo nem fundo / É a parte que te cabe deste latifúndio / Não é cova grande, é cova medida / É a terra que querias ver dividida / É uma cova grande pra teu pouco defunto / Mas estás mais ancho que estavas no mundo / É uma cova grande pra teu defunto parco / Porém mais que no mundo te sentirás largo / É uma cova grande pra tua carne pouca / Mas a terra dada, não se abre a boca / É a conta menor que tiraste em vida / É a parte que te cabe deste latifúndio / É a terra que querias ver dividida / Estarás mais ancho que estavas no mundo /Mas a terra dada, não se abre a boca."

Nossa situação é imensamente melhor que a grande maioria dos demais 'lavradores' de tantas outras 'terras'. Contudo, a discrepância de conduta de nossos administradores no gerir de seus recursos humanos é nauseante entre muitos de seus servidores, eufemismo apropriado para servos ou serviçais. Impressiona ver como o homem é relativista em sua natureza, eminentemente econômica, em meu entender. Não atém-se a seu prato, e sim com sua porção em face do todo. Não me excluo desta perspectiva, conquanto o que mais me incomode seja a conotação de justiça que permeie este meio. Preocupa-me ainda mais o que nos resta como terra dada, da qual "não se abre a boca".

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