terça-feira, 16 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

E agora, José...

José
(Carlos Drummond de Andrade)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

The Ultimate Nonconformist Worker Song

Maggie's Farm

I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
No, I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
Well, I wake in the morning
Fold my hands and pray for rain
I got a head full of ideas
That are drivin’ me insane
It’s a shame the way she makes me scrub the floor
I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more

I ain’t gonna work for Maggie’s brother no more
No, I ain’t gonna work for Maggie’s brother no more
Well, he hands you a nickel
He hands you a dime
He asks you with a grin
If you’re havin’ a good time
Then he fines you every time you slam the door
I ain’t gonna work for Maggie’s brother no more

I ain’t gonna work for Maggie’s pa no more
No, I ain’t gonna work for Maggie’s pa no more
Well, he puts his cigar
Out in your face just for kicks
His bedroom window
It is made out of bricks
The National Guard stands around his door
Ah, I ain’t gonna work for Maggie’s pa no more

I ain’t gonna work for Maggie’s ma no more
No, I ain’t gonna work for Maggie’s ma no more
Well, she talks to all the servants
About man and God and law
Everybody says
She’s the brains behind pa
She’s sixty-eight, but she says she’s twenty-four
I ain’t gonna work for Maggie’s ma no more

I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
No, I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
Well, I try my best
To be just like I am
But everybody wants you
To be just like them
They sing while you slave and I just get bored
I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more

Copyright © 1965 by Warner Bros. Inc.; renewed 1993 by Special Rider Music

The Ultimate Poem Song

A Hard Rain's A-Gonna Fall

Oh, where have you been, my blue-eyed son?
Oh, where have you been, my darling young one?
I’ve stumbled on the side of twelve misty mountains
I’ve walked and I’ve crawled on six crooked highways
I’ve stepped in the middle of seven sad forests
I’ve been out in front of a dozen dead oceans
I’ve been ten thousand miles in the mouth of a graveyard
And it’s a hard, and it’s a hard, it’s a hard, and it’s a hard
And it’s a hard rain’s a-gonna fall

Oh, what did you see, my blue-eyed son?
Oh, what did you see, my darling young one?
I saw a newborn baby with wild wolves all around it
I saw a highway of diamonds with nobody on it
I saw a black branch with blood that kept drippin’
I saw a room full of men with their hammers a-bleedin’
I saw a white ladder all covered with water
I saw ten thousand talkers whose tongues were all broken
I saw guns and sharp swords in the hands of young children
And it’s a hard, and it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
And it’s a hard rain’s a-gonna fall

And what did you hear, my blue-eyed son?
And what did you hear, my darling young one?
I heard the sound of a thunder, it roared out a warnin’
Heard the roar of a wave that could drown the whole world
Heard one hundred drummers whose hands were a-blazin’
Heard ten thousand whisperin’ and nobody listenin’
Heard one person starve, I heard many people laughin’
Heard the song of a poet who died in the gutter
Heard the sound of a clown who cried in the alley
And it’s a hard, and it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
And it’s a hard rain’s a-gonna fall

Oh, who did you meet, my blue-eyed son?
Who did you meet, my darling young one?
I met a young child beside a dead pony
I met a white man who walked a black dog
I met a young woman whose body was burning
I met a young girl, she gave me a rainbow
I met one man who was wounded in love
I met another man who was wounded with hatred
And it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
It’s a hard rain’s a-gonna fall

Oh, what’ll you do now, my blue-eyed son?
Oh, what’ll you do now, my darling young one?
I’m a-goin’ back out ’fore the rain starts a-fallin’
I’ll walk to the depths of the deepest black forest
Where the people are many and their hands are all empty
Where the pellets of poison are flooding their waters
Where the home in the valley meets the damp dirty prison
Where the executioner’s face is always well hidden
Where hunger is ugly, where souls are forgotten
Where black is the color, where none is the number
And I’ll tell it and think it and speak it and breathe it
And reflect it from the mountain so all souls can see it
Then I’ll stand on the ocean until I start sinkin’
But I’ll know my song well before I start singin’
And it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard, it’s a hard
It’s a hard rain’s a-gonna fall

Copyright © 1963 by Warner Bros. Inc.; renewed 1991 by Special Rider Music

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Vida Nova

Assumi novo posto de trabalho. Vida nova que começa. Nem tudo é tão bonito de tão perto nem tão ruim quanto parece. Ou seja, as reviravoltas fazem parte da vida e meditar sobre os porquês parece ser agora inócuo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Eu vou te contar (Fauzi Arap)

Eu vou te contar que você não me conhece
E eu tenho que gritar isso
Porque você está surdo e não me ouve
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo você permanece comigo
Mas preso ao que eu criei e não amei
E não a mim
E quanto mais falo sobre a verdade inteira
Um abismo maior nos separa
Você não tem um nome e eu tenho
Você é rosto na multidão
E eu sou o centro das atenções
Mas há mentira na aparência do que eu sou
E há mentira na aparência do que você é
Porque eu não sou o meu nome
E você não é ninguém
O jogo perigoso que eu pratico aqui
Busca chegar no limite possível de aproximação
Através da aceitação da distância
Ou do reconhecimento dela
Entre eu e você
Existe a notícia que nos separa
Eu quero que você me veja nu
Eu me dispo da notícia
E a minha nudez parada
Me denuncia e te espelha
Eu me dilato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim me livro das palavras
Com a as quais você me veste.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Os Indiferentes

Antonio Gramsci
11 de Fevereiro de 1917

Primeira Edição: La Città Futura, 11-2-1917
Origem da presente Transcrição: Texto retirado do livro Convite à Leitura de Gramsci"
Tradução: Pedro Celso Uchôa Cavalcanti.
Transcrição de: Alexandre Linares para o Marxists Internet Archive
HTML de: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: Marxists Internet Archive (marxists.org), 2005. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

No one loves me, neither do I

NO ONE LOVES ME, NEITHER DO I

(Them Crooked Vultures)

Take a song from the first time you made me introduce them
She was looking, her mind just oblique
She called me baby, and was a mean lady with the song on the radio
So I told her I was rich, then she asked could I use a dirty bitch (of course)

Then she said, No one loves me... neither do I
You get what you give,
And give goodbye
and if I should vanish
Don't get caught off guard
Don't hold it against me
Unless it gets her

Well if sex is a weapon, then smash, boom, pow,
How do you like me now?
You can't always do it right, you can always do what's left
So I told her I was trash, she wait til after and said I already know...
I've got a beautiful place to put your face and she was right,

And I said, no one loves me... neither do I
It makes perfect sense,
So I heard her ask why?
I've got tomorrow
Cuz life doesn't wait
You can keep your soul
I don't wanna soul mate

Cutting her loose, I'm ready to go
People in the world, your gonna lose control
Cutting her loose, I'm ready to go
People in the world, your gonna lose control
Cutting her loose, I'm ready to go
People in the world, your gonna lose control
Cut me a noose, I'm ready to go
People in the world, your gonna lose

I know how to burn with passion
Hope nothing backfolds future ration
Give all you are, to not make haste
Save our revery, single taste
You get... cut

I know how to be controlled
Do what they said so, what your told
Quick to react, to break the box
Turn on queue, as your cell door locks
Behind you

I know how to be lost in lust
Not because you should, but because you must
It burns white hot, and so climbs the mile
This lightening strike isn't always cut
So use me up
Use me up

Para jamais me esquecer...

Eclesiastes 1

1 ¶ Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
4 ¶ Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
5 Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos.
7 Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr.
8 Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 ¶ O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
11 Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois.
12 ¶ Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.
13 E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar.
14 Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.
15 Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.
16 Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento.
17 E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito.
18 Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.

O Funeral de um Lavrador

À parte de qualquer pretensão poética ou política, sinto alguma proximidade da letra da música 'Funeral de um Lavrador", de Chico Buarque (novamente) e de João Cabral de Melo Neto, com os constantes desabafos descontentes dos colegas servidores da instituição onde trabalho.

Funeral de um Lavrador
Composição: Chico Buarque de Hollanda / João Cabral de Mello Neto

"Esta cova em que estás com palmos medida / É a conta menor que tiraste em vida / É de bom tamanho nem largo nem fundo / É a parte que te cabe deste latifúndio / Não é cova grande, é cova medida / É a terra que querias ver dividida / É uma cova grande pra teu pouco defunto / Mas estás mais ancho que estavas no mundo / É uma cova grande pra teu defunto parco / Porém mais que no mundo te sentirás largo / É uma cova grande pra tua carne pouca / Mas a terra dada, não se abre a boca / É a conta menor que tiraste em vida / É a parte que te cabe deste latifúndio / É a terra que querias ver dividida / Estarás mais ancho que estavas no mundo /Mas a terra dada, não se abre a boca."

Nossa situação é imensamente melhor que a grande maioria dos demais 'lavradores' de tantas outras 'terras'. Contudo, a discrepância de conduta de nossos administradores no gerir de seus recursos humanos é nauseante entre muitos de seus servidores, eufemismo apropriado para servos ou serviçais. Impressiona ver como o homem é relativista em sua natureza, eminentemente econômica, em meu entender. Não atém-se a seu prato, e sim com sua porção em face do todo. Não me excluo desta perspectiva, conquanto o que mais me incomode seja a conotação de justiça que permeie este meio. Preocupa-me ainda mais o que nos resta como terra dada, da qual "não se abre a boca".

Se Chico Buarque não existisse, precisaríamos inventá-lo.

Conquanto eu pensasse ser de origem cartesiana, o dizer "Se Deus não existisse, precisaríamos inventa-lo", descobri que se trata de uma "citação da Epístola ao Autor dos Três Impostores, de Voltaire" [http://erikabet.blogspot.com/2008/04/se-deus-no-existisse-precisaramos.html].

Parafraseando o nobre crítico francês de outrora, se Chico Buarque não exisitisse, seria preciso inventá-lo. Não. Não o comparo a Deus. Nem a deus algum também. Minha pretensa colocação se refere a Chico como obra, como conteúdo que, mui humildemente, relevo a importância de sua produção ao mais alto patamar filosófico, humanístico, político e outros ico's a mais.

Em meio ao desconforto temporário da sala onde presto expediente, que se encontra em reforma, e também esquivando-me de ondas sonoras humanas tão pouco producentes, tenho me isolado em um fone de ouvido regado ao compositor Buarque. Ao ouvir pela infinitésima vez 'O Que Será (à Flora da Pele)', em uma versão 'ao vivo', não me contive em reproduzir as palavras por ele cantadas:

"O que será que me dá, que me bole por dentro, será que me dá, que brota à flor da pele, será que me dá, e que me sobe às faces e me faz corar, e que me salta aos olhos a me atraiçoar, e que me aperta o peito e me faz confessar, o que não tem mais jeito de dissimular, e que nem é direito ninguém recusar, e que me faz mendigo, me faz implorar, o que não tem medida, nem nunca terá, o que não tem remédio nem nunca terá, o que não tem receita.

O que será que será, que dá dentro da gente e que não devia, que desacata a gente, que é revelia, que é feito uma aguardente que não sacia, que é feito estar doente de uma folia, que nem dez mandamentos vão conciliar, nem todos os unguentos vão aliviar, nem todos os quebrantos, toda a alquimia, que nem todos os santos, será que será, o que não tem descanso, nem nunca terá, o que não tem cansaço, nem nunca terá, o que não tem limite.

O que será que me dá, que me queima por dentro, será que me dá, que me pertuba o sono, será que me dá, que todos os ardores me vêm atiçar, que todos os tremores me vêm agitar, que todos os suores me vêm encharcar, que todos os meus nervos estão a rogar, que todos os meus órgãos estão a clamar, e uma aflição medonha me faz implorar, o que não tem vergonha, nem nunca terá, o que não tem governo, nem nunca terá, o que não tem juízo..."

Agora, dá para imaginar o desconforto de quem vive a descrição de acima?

Sem Chico Buarque, a vida de quem pensa, sente e sofre estaria incompleta.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sobre as "Pulseiras do Sexo"

Seguindo conselho de Walter, reproduzo um texto por mim produzido como resposta a um tópico que tratava das supostas "pulseiras do sexo':

– Quantos e quantos não 'copiam' o que ocorre ao seu redor apenas para não serem desqualificados de popularidade. Entendo que este caso é apenas mais uma manifestação do sintomático desvirtuamento de valores relativos à dignidade humana, como depreendi das palavras de Thaysa. Não se esqueçam do poder exercido, por exemplo, pela rede globo de televisão nas últimas décadas, definindo os padrões de comportamento e de consumo. Para quem não pôde ver em tempo real, lembro apenas que Xuxa educou toda uma geração com ideias obcessivas, tais como alourear os cabelos e usar microssaias, entre outras 'tendências de moda'. Não me acusem de hipocrisia, pois não estou dizendo que viro o rosto quando me deparo com tais imagens. Acredito, muito embora, que essa não é a educação que quero dar à minha filha, no sentido de permitir que suas opções sejam pautadas por um veículo manipulador que vislumbra apenas sua própria recompensa. Seja nudismo ou 'burquianismo', entendo que devemos ser educados para discernir o que seja ou não degradante para nós mesmos, para nossos valores essenciais. Se Sofia assim quiser se portar, devo respeito às suas escolhas, mas não posso me eximir de ampliar seus horizontes para que ela não recaia por negligência parental nessa vala comum, podre de amoralidade. Big Brothers e Fazendas, entre outros programas 'inocentes', apenas proliferam massificadamente o abandono do próprio respeito em detrimento de 'prêmios' momentâneos, embora suntuosos, e uma popularidade efêmera e banal. O pior ainda virá...